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Tenho a certeza que todos nós já nos questionámos sobre o nosso propósito em algum momento. O que nasci para fazer? Qual é a minha missão? A minha profissão é o meu propósito? E se eu não souber o que quero fazer? Mas eu gosto de fazer 10 mil coisas diferentes e completamente opostas, como posso saber qual delas é o meu propósito?
Já tive muitas mini-crises existenciais à custa destas perguntas. Provavelmente tu também.
Um pouco da minha experiência
Em criança queria ser veterinária porque os animais eram os meus seres preferidos (provavelmente ainda são 🙈)… Mais tarde, quis ser professora de história e arqueóloga porque História era a minha disciplina preferida e tive uma fase de enorme panca pelo Antigo Egito. Quando tive de decidir a área do Secundário estava mais voltada para as Artes. Na altura passava imenso tempo a desenhar roupa e cheguei a criar alguma peças na máquina de costura da minha mãe. Os meus pais decidiram que arte não paga contas (a Budiludi vai provar que ou eu ou eles estamos muito errados) e acabei por ir para Ciências e Tecnologias. Eu, que sempre preferi Português, História e Artes e que sempre passei a Matemática e Ciências a muito custo. Sem surpresas, reprovei no 12º ano, com negativa a Matemática e a Física e Química.
Na altura isto foi o fim do mundo. Todos os meus amigos seguiram os seus percursos e eu fiquei para trás. Mas esse ano acabou por definir o meu futuro. Se eu tivesse concluído o Secundário no tempo devido, não faço ideia do que teria feito a seguir. Aos 17 anos eu não fazia ideia de que carreira escolher e não havia nenhuma área que me atraísse particularmente.
Como tive de repetir esse ano, além de me inscrever nas disciplinas a que reprovei, resolvi inscrever-me também em Psicologia. Eu já tinha tido a disciplina no ano anterior, mas senti que não tinha realmente tirado partido dos conteúdos, então decidi repetir a disciplina um novo professor. Foi a decisão certa. Nesse ano, as aulas de Psicologia foram uma âncora para mim. O Professor não se limitava a passar matéria. Organizava debates onde tínhamos de refletir com mais profundidade sobre os assuntos e eu, que sempre fui a aluna calada que tentava passar despercebida para nunca ter de responder a nada à frente da turma, participava ativa e entusiasmadamente nas aulas. Foi graças a esse ano, a esse professor, e a essa disciplina, que acabei por decidir estudar Psicologia na Universidade. E a ironia de tudo isso é que foi o meu 16 no exame de Matemática nesse ano que me permitiu obter a média para entrar no curso. 😁
Fast forward para 2016, depois de um ano de estágio profissional dececionante, e de seis meses incríveis a fazer voluntariado numa pequena cidade na Roménia, acabei a trabalhar numa multinacional em Bucareste. Nos quatro anos seguintes o trabalho que me pagava as contas ao final do mês tinha zero a ver com a minha formação, com a minha vocação e, pensava eu, com o meu propósito. O nome do meu cargo era “Collections Analyst” e a minha principal função era, literalmente, garantir que os clientes de uma das maiores empresas mundiais de tecnologia pagassem o valor que deviam a essa mesma empresa. Foram inúmeras as vezes em que me perguntei o que estava ali a fazer, num trabalho que, a meu ver, era desprovido de qualquer propósito e significado. E foi só na minha última semana nessa função que percebi que o meu papel tinha sido mais relevante do que eu julgava.
Nessa semana tive de enviar um email a todos os clientes a informar que seriam os meus últimos dias ali e a indicar o contacto da pessoa que me ia substituir. Isto foi o que aconteceu a seguir:

Não partilho estas mensagens para me enaltecer ou massajar o ego. Partilho porque me ensinaram uma lição importante. Durante quatro anos eu questionei o meu propósito e o meu contributo. A meu ver, o meu trabalho não acrescentava qualquer valor nem tinha qualquer impacto positivo. Estas pessoas com quem colaborei eram pessoas a quem eu tinha de pedir, às vezes muito insistentemente, que pagassem as suas dívidas. Mas a verdade é que durante esses quatro anos fui eu quem procurou compreender, ajudar e procurar soluções sempre que elas precisaram. Fui eu que respondi sempre com respeito e gentileza, independetemente da situação financeira do cliente. Fui eu que falei com elas ao telefone e por email todas as semanas.
Receber estes emails fez-me compreender que propósito tem mais a ver com os meus valores e com a forma como escolho apresentar-me ao mundo do que com a minha profissão.
Propósito versus carreira
A nossa carreira é o que nos paga o ordenado, quer seja o trabalho com que sempre sonhámos ou um que queremos deixar assim que possível. Mas o propósito não tem nada a ver com isso. O propósito está lá quando adoras o teu trabalho, quando detestas o teu trabalho, ou quando nem sequer tens trabalho. Se o teu propósito é ensinar e és professor(a), mesmo que por algum motivo não possas exercer a tua profissão, o teu propósito não desaparece! Provavelmente vais encontrar outras formas de continuar a ensinar, noutros contextos, mesmo que não seja isso que te pague o salário. Como li algures, nem todos temos uma carreira, mas todos temos um propósito.
Como sei qual é o meu propósito?
Na minha visão, que é apenas a visão de alguém que está também neste caminho de descobrir quem é, o que quer, e o que tem para oferecer, o propósito não é algo que tenhamos que procurar ou descobrir. É algo que nasceu connosco e que “apenas” temos que recordar. De uma forma muito geral, todos nós temos um único propósito: viver de acordo com a nossa verdade, com os nossos valores, com a nossa essência. Que mais não é do que dizer que todos nós temos o propósito maior de viver de uma forma autêntica. A tal famosa questão: lembras-te de quem eras antes do mundo te dizer quem deves ser?
Como disse, este é um tema que eu própria tenho vindo a explorar e, ao partilhar, o meu objetivo é apenas esse. Partilhar o que me tem ajudado nos meus próprios processos de autodescoberta. Coisas que funcionam para mim. Por muito que nos possamos inspirar nos processos de outras pessoas, cada um de nós é um ser humano único, e o propósito de cada um de nós é tão singular, que só nós mesmos podemos re-descobrir qual é.
Com isso em mente, partilho contigo algumas sugestões e reflexões. Considera cada uma delas, reflete sobre quais fazem sentido para ti, e acrescenta quaisquer outras que te possam ajudar.
- Explora o teu universo interior. Seja através de terapia, cursos, workshops, journaling… sempre que tiveres possibilidade, procura conhecer-te melhor. Descobre quais são as tuas paixões porque elas não estão lá por acaso. Há uma grande probabilidade de aquilo que adoras fazer estar relacionado com o teu propósito.
- Trabalha com mentores. Um mentor pode ser qualquer pessoa que esteja onde tu queres chegar um dia ou que, pelo menos, esteja uns passos à tua frente nessa jornada. Pode ser um profissional ou simplesmente um amigo ou familiar. Acho que não posso salientar suficientemente a importância de aprender com pessoas que já desbravaram caminho. Tantas vezes despendemos (demasiado) tempo a ouvir a opinião de outas pessoas antes de nos ouvirmos a nós mesmos. Da próxima vez que alguém te der uma opinião sobre o teu percurso e sobre o que deves ou não fazer, pergunta-te: esta pessoa está a viver uma vida que eu também desejo para mim? Se a resposta é não, reflete se essa opinião está realmente a contribuir para a tua evolução.
- Toma consciência das tuas crenças limitantes. E escrevo isto com total noção de que é uma das partes mais difíceis. Algumas destas crenças existem em nós desde a infância e foram-nos repetidas milhares de vezes pela família, pela escola, pela sociedade… é muito difícil convencermo-nos de que não são verdade. Mas são os nossos pensamentos que criam a nossa realidade. Se continuamos a dizer a nós mesmos que não temos tempo, que não temos dinheiro, que não temos talento, que não temos conhecimento, então vamos continuar a não ter tempo, nem dinheiro, nem talento, nem conhecimento. Em vez de criarmos dez problemas para cada solução, vamos criar pelo menos uma solução para cada problema. E isto leva-nos ao próximo ponto.
- Responsabiliza-te pela tua vida. Enquanto continuamos à procura de culpados e de desculpas nada pode mudar. É verdade que às vezes existem situações externas que nos limitam, mas também é verdade que há sempre uma solução. E só conseguimos encontrar essa solução quando assumimos que a única pessoa que pode fazer alguma coisa somos nós mesmos.
- Se não gostas do teu trabalho neste momento e sair ainda não é uma opção, tenta perceber se há alguma forma de colocares em prática algum dos teus talentos ou paixões no que estás fazer agora. Por exemplo, durante os quatro anos em que estive no trabalho de que falei acima, envolvi-me noutros projetos dentro da empresa que estavam mais ligados aquilo que eu queria realmente fazer. Inicialmente, fui uma das coordenadoras da equipa de responsabilidade social e, mais tarde tornei-me Junior Pathfinder (uma espécie de Psicóloga/Responsável de Recursos Humanos) dentro da minha equipa. Essas experiências não foram remuneradas, mas foram o que me permitiu mais tarde fazer esse trabalho a full time no último ano e meio.
- No entanto, lembra-te que o nosso propósito não depende da forma como ganhamos um ordenado. Não é necessário mudar de emprego ou criar o próprio negócio, não é necessário largar tudo e ir para o outro lado do mundo à procura do sentido da vida. O teu propósito não tem de ser capitalizado. Nós vivemos o nosso propósito quando escolhemos viver de uma forma autêntica, alinhados com a nossa essência e com os nossos valores. Então, reflete sobre quais são os teus valores não negociáveis e procura uma forma de viver o mais possível em alinhamento com eles – não só no teu trabalho, mas em todos os contextos.
Alguns recursos que podem ajudar
Deixo-te também algumas sugestões de cursos, livros, filmes e exercícios de journaling que podes considerar neste processo de re-descoberta.
- Curso
- Discovering Success: 7 Exercises to Uncover Your Purpose, Passion & Path
– disponível na Skillshare. com legendas em Português. Se não tens subscrição na plataforma, podes usar este link para ter acesso grátis por um mês (caso nunca tenhas usufruido de acesso gratuito).
- Discovering Success: 7 Exercises to Uncover Your Purpose, Passion & Path
- Livros
- A Grande Magia, de Elizabeth Gilbert
- Find your Sparkle, de Meredith Gaston (não existe em Português)
- You Are Here (For Now), de Adam J. Kurtz (não existe em Português)
- A Joia Interior, de Anna Lennas
- Caminho para uma Vida Feliz, de Deepak Chopra
Os últimos dois são livros infantis mas, na minha opinião, os livros para crianças têm sempre ainda mais relevância para os adultos. Afinal, as crianças estão muito mais conectadas ao seu propósito do que nós.
- Filme
- Soul, da Pixar. Se só quiseres seguir uma das sugestões que te deixo, escolhe esta!!
- Algumas questões de journaling que podes explorar
- Para mim, viver o meu propósito significa…
- Sinto-me mais conectada(o) ao meu propósito quando…
- Eu gostava de ser admirada(o) por…
- Quais eram as atividades que mais gostava de fazer em criança?
- O que é que posso fazer durante horas sem me aborrecer?
- Quais são os talentos ou coisas que faço muito bem e outras pessoas reconhecem em mim?
- Que coisas são normalmente difíceis para os outros, mas para mim são fáceis?
- Quais são os meus valores fundamentais? Estou a viver de acordo com eles?
- O que me está a impedir de viver o meu propósito?
- Quais são alguns passos que posso dar para viver de uma forma mais autêntica?
Espero que este conteúdo de tenha inspirado!
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